quarta-feira, 20 de março de 2013

Jorge Jesus, a hora é agora!

Questão crucial acerca do core business (como os tecnocratas apelidam) do Sport Lisboa e Benfica é sem dúvida o principal responsável técnico do futebol profissional. A posição de treinador da primeira equipa é um lugar essencial do nosso Clube, não admira portanto que sempre cause controvérsia e permita um infindável número de opiniões, da blogosfera ao café do bairro.

Jesus, o nome mais comentado é Jorge Jesus. Importa recordar o percurso de Jorge Jesus (JJ) dentro do Benfica. Qual salvador da pátria, apresenta-se de forma contundente e dispara: «Comigo, os jogadores vão render o dobro» ou «dentro de um mês a equipa estará a jogar como quero».

É esta segunda afirmação que me interessa (até porque, para mim, eles jogaram bem mais que o dobro...), não por ser inédita (outros técnicos já a "arriscaram" - lembro-me de Manuel José, no Benfica, por exemplo) mas sobretudo porque JJ tratou de passar das palavras aos actos. E com estrondo!

Nesse tal mês, o Benfica "limpou" todos os Torneios de Verão onde participou (incluíndo o prestigioso Torneio de Amsterdam) com um futebol deslumbrante, ofensivo e cheio de golos. Ao entrar na primeira jornada do Campeonato, comete o mesmo "pecado" dos seus (muitos) antecessores e empata, em casa, frente ao Marítimo. Blasfémia ? Desilusão ? Nada disso, o Benfica acabava de empatar um jogo (tendo estado em desvantagem grande parte do tempo..) atropelando autenticamente o seu adversário e jogando um futebol tremendo, ilusionante. E nesse fim de tarde, a equipa deixou o Catedral debaixo de uma tremenda ovação (!!) do exigente público benfiquista. Raramente um empate caseiro no Campeonato Nacional havia sido tão bem recebido.

Esse Benfica, versão Jesus 1.0, havia de ser Campeão Nacional e praticar um futebol apaixonante, como não se via na Luz há quase 20 anos. JJ era então figura incontestada e incondicional do Benfica. Seguiram-se dois anos a seco no Campeonato, mas a filosofia atacante, à Benfica, manteve-se. Podemos escalpelizar culpas e culpados nesses resultados falhados, dos internos aos externos, a responsabilidade toca a todos, ainda assim, na minha modesta opinião, não foi JJ o "Cristo" desses 2 Campeonatos.

Mas as derrotas ensinam tanto ou mais que as vitórias e o desempenho da época 12/13 mostra que JJ não é burro velho e fez um upgrade. O treinador benfiquista percebeu de onde vêm os perigos, reflectiu sobre o equilíbrio necessário para se chegar aos títulos, nem sempre o bólide mais potente ou mais rápido vence uma corrida... Esta equipa pode não ter a potência avassaladora de 09/10 e até 10/11, mas é sem dúvida alguma a mais sólida, compacta e adulta. Este Benfica, versão Jesus 4.0, é a equipa mais difícil de bater no consulado do técnico. É uma equipa que não se precipita, que gere os momentos de jogo como ninguém e que insiste em não perder jogos!!

Chegamos então ao assunto quente: a continuidade ou não de Jorge Jesus como treinador do Benfica.

Ponto prévio, sou completa e incondicionalmente favorável à sua continuidade. Contudo, tentarei interpretar os prós e contras de todo este assunto. E há muitos itens importantes para analisar.

TÁCTICA: a componente mais forte do treinador. Em 4 anos, com diferentes plantéis, foi sempre capaz de "produzir" uma equipa fiel à História benfiquista, de ataque, goleadora, de tracção à frente e nota artística. E isto, para um benfiquista que se preze é sempre relevante. No Benfica, mais do que ganhar importa ganhar bem. E por muitos! JJ conseguiu sucessivamente trazer espectáculo para Luz, bater-se de igual para igual com os melhores clubes europeus, e fê-lo através da sua "táctica", da forma como consegue "espremer" as potencialidades dos jogadores ao seu dispôr.

POTENCIAR RECURSOS: JJ aumentou o valor do plantel benfiquista de forma exponencial. "Fez" algumas das grandes estrelas europeias do momento, transformou atletas em estrelas e rendeu milhões ao Sport Lisboa e Benfica. Não preciso citar nomes ou números para provar que são muitos mais os casos de sucesso que os de insucesso (e interessa também perceber, a posteriori, de quem foi a culpa desses insucessos). Aliar sucesso desportivo ao financeiro é bem mais simples que ter vendas astronómicas sem um completo sucesso desportivo. Ainda assim, os cofres da Luz não se podem queixar da performance de JJ.

TÍTULOS: com Jesus, o Benfica não terminou nenhum dos seus 3 anos (completos) em branco. Ainda assim, as suas conquistas em termos de títulos oficiais é escassa. Mesmo que "esmague" os seus antecessores, 1 Campeonato + 3 Taças da Liga em 3 anos é manifestamente pouco para o Sport Lisboa e Benfica, não há volta a dar. Podemos tentar contextualizar essas perdas e os motivos porque aconteceram, mas a frieza dos números demonstra que ficou aquém na contabilidade analítica daquilo que mais importa. E acrescento, mesmo que esta época 12/13 termine no Céu (com 3 conquistas), o registo de JJ neste campo (7 títulos em 4 anos ; 2 Campeonatos em 4 ; 1 prova europeia 50 anos depois e mais de 20 desde a última final) passará a ser aceitável e não excepcional, a História do Benfica assim o dita. E História não é contabilizar de 1995 até hoje, é desde 1904!

SALÁRIO: outro tópico que tem causado muita controvérsia é o salário do treinador. Bruto ou líquido, 2 ou 4M/anuais, muito se tem escrito acerca desses valores. Tenho para mim que é o rendimento efectivo, o desportivo, as conquistas, que demonstram se treinador X ou Y é barato/caro. Ninguém criticou o salário baixo (diz-se até que inferior ao que auferia em Braga) de JJ na época 09/10, como ninguém se opôs ao seu aumento depois do extraordinário desempenho. Posto isto, JJ ganha demais se não vencer, e sempre que um treinador do Benfica não vence...ganhará demais. Alguns dirão que, dinheiro por dinheiro, as vendas que JJ proporcionou "pagam" os seus honorários, mas o Benfica não remunera treinadores para serem gestores ou economistas, remunera-os para vencerem títulos para o Clube. E chegados aqui, não sei que preço se pode colocar a uma Vitória, sei é que temos de enquadrar esses valores na realidade do País e sobretudo na realidade do Clube. E importa não ter - nunca! - salários em atraso, sejam os dos treinadores ou os dos roupeiros. Eu apostaria em elevados prémios em caso de conquistas efectivas (uma tabela para Campeonato, Europa e Taças) e um salário mensal justo para ambas as partes (e não coloco de parte que o contrato em vigor já tenha tido em atenção estas variáveis, do Clube e do País).

Eu defendo que JJ merece continuar não por conseguir vencer o Campeonato, mas sim porque acredito que é com ele que estamos mais perto de vencer muitas vezes, consecutivas até. Posso obviamente estar errado, mas futebolísticamente, o Benfica (versão Jesus) não tinha esta pujança, este futebol há décadas. E acredito que a estabilidade no comando técnico encarnado é algo que será muito mais produtivo que o contrário. E o Benfica pode continuar a crescer com Jesus.

Acerca da corrente de opinião que defende a sua saída, tento pensar em nomes que melhorariam o trabalho de JJ ou que aumentariam a nossa probabilidade de vitórias e...vejo poucos, pouquíssimos. Portugueses...só Mourinho me daria garantias imediatas e esse é impossível. Paulo Fonseca vai ser um grande técnico e estará numa equipa grande mais cedo ou mais tarde, mas será melhor que JJ ? No imediato não. Os estrangeiros (e até essa ideia que muitos anos vingou na massa associativa encarnada - que no Benfica só um técnico estrangeiro teria sucesso e capacidade para lidar com as "vedetas" - Jesus foi capaz de contrariar) têm o handicap de não terem, nem de perto nem de longe, o conhecimento das peculiaridades do futebol/campeonato português que JJ tem. E não há tantos técnicos assim, que fruto das suas capacidades de montar uma equipa, uma ideia de jogo, uma táctica, possam estar imunes às características de determinado futebol.

Para mim, o Benfica tem muito mais a perder com a saída de Jesus do que com a sua continuidade. E ao entrarmos agora na recta final da época, o Benfica (o seu Presidente, certamente) deveria jogar a sua "cartada". Se em 2005 foi também o golpe de génio de Vieira (comprando a quase totalidade da lotação do Bessa) que impulsionou a equipa para o título, o momento - agora - pode ser semelhante.

Não podemos estar reféns de um treinador, certo, mas também não podemos atrasar decisões baseadas numa corda-bamba de ser ou não Campeão. Anunciando a renovação agora, o Benfica traria o estímulo e convicção necessária para um final de época vitorioso. Conseguiria aglomerar a Nação Benfiquista e terminaria com qualquer tipo de rumor que possa ainda denegrir ou atrapalhar essa caminhada (e veja-se que até o Sporting anda a meter o bedelho...).

Por outro lado protegeria o treinador face às notícias (e acreditem que elas surgirão se o enfica não acabar, decididamente, com elas) de um ingresso no principal rival. Imaginem o cenário de um mau resultado aliado a essas especulações: não faltariam as más-línguas a apontar o dedo ao técnico «não se importa de perder porque para o ano vai para o Porto» ou «isto já são indicações do futuro patrão». Sei que Jesus não é de tretas dessas e é um homem sério, mas da especulação não se livraria, e na opinião pública menos informada, isso seria um dano considerável ao espírito de equipa e nas possibilidades de vitória.

Com o anúncio da renovação agora, neste momento, Vieira e o Benfica fariam a sua parte e teriam quota parte do sucesso deste fim de época. A minha visão é esta, num momento que se espera de total e esmagadora união, o Benfica devia renovar já dando um murro na mesa das conjecturas e alicerçando de forma sólida as Vitórias.

Há ainda a hipótese da renovação estar acordada (parece-me pouco provável, porque não a tornar pública não nos traz nenhum benefício) ou até de JJ não querer renovar. E aqui sim, o Clube fica numa posição difícil, primeiro porque tudo está em jogo e não interessa andar a auscultar futuros técnicos porque isso traria enorme instabilidade (e acreditem, que havendo "contactos", a CS saberia e daria grande destaque) a todos: Jesus, Benfica, adeptos e direcção. E se de facto, o Benfica não anunciar a renovação brevemente (nesta pausa de Campeonato) começo a pensar que JJ não será treinador do Benfica na época 13/14.

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